Superação nos tatames: Kaike Angelim conquista bronze no Grand Slam após paraplegia

O atleta paralímpico Kaike Angelim, 11 vezes campeão da Federação Internacional de Jiu-Jitsu Brasileiro, conquistou no último mês a medalha de bronze no Grand Slam, realizado no Rio de Janeiro. Ele ficou paraplégico em 2022, mas encontrou no parajiujitsu uma nova forma de se reinventar e continuar sua trajetória no esporte. O próximo desafio do atleta será o Campeonato Mundial de Parajiujitsu, em 7 de novembro, nos Emirados Árabes.
Após o acidente que o deixou paraplégico, Kaike enfrentou barreiras emocionais e físicas, mas superou suas limitações e retornou aos tatames. Ele destaca que o apoio do presidente da Federação de Parajiujitsu foi fundamental para sua volta ao esporte, após um período de um ano e meio de bloqueio emocional. O atleta também aponta as dificuldades logísticas e estruturais, como a falta de acessibilidade, que enfrenta diariamente, inclusive para treinar.
“Os desafios físicos são diários. Atualmente, em Cuiabá, por exemplo, eu fico no apartamento da minha irmã, que é no quarto andar de um prédio, e, para treinar, tenho que descer três lances de escada com a ajuda de alguém e subir três lances com a ajuda de dois amigos. Esses são os principais desafios físicos que enfrento para treinar e me dedicar”, contou o atleta.
Kaike Angelim já conquistou diversos títulos importantes ao longo de sua carreira, incluindo o Mundial, Pan-Americano, Sul-Americano, Latino-Americano, Brasileiro e Mato-Grossense de Jiu-Jitsu. No entanto, ele ressalta a falta de incentivo para atletas paralímpicos em fases iniciais da carreira, o que resulta em muitos talentos abandonando o esporte por falta de apoio financeiro e estrutural.
“Quando os atletas já estão em nível nacional e fazem parte da delegação brasileira, eles têm total suporte, tanto de infraestrutura, como no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, e no programa para atletas da Marinha, no Rio de Janeiro. Eles têm bolsas, patrocínios, programas de treinamento, mas os atletas que estão iniciando, como eu, não têm suporte nenhum. Muitos talentos se perdem nesse caminho devido a essas circunstâncias”, afirmou Kaike.
Para Kaike, o esporte é uma ferramenta poderosa de reabilitação e transformação de vidas, não apenas para pessoas com deficiência, mas para qualquer um que esteja passando por dificuldades. Ele defende a criação de centros de treinamento em cada estado para apoiar o desenvolvimento de atletas paralímpicos desde o início, garantindo maior inclusão e descobrimento de novos talentos.
“Se existissem, nos estados e municípios, centros de treinamento para esses atletas, isso com certeza traria muitas glórias, muitos títulos para o nosso país e poderia salvar muitas vidas”, disse o lutador.
Apesar das dificuldades, Kaike se considera um exemplo de superação e espera inspirar outras pessoas a seguir o mesmo caminho. “O esporte é a melhor ferramenta para resgatar pessoas. Minha trajetória como atleta, passando por essa dificuldade com o acidente e a paraplegia, e retornando ao esporte, prova que consegui viver novamente de uma forma feliz.”
Por fim, Angelim deixa um conselho: “Busque o esporte, independentemente de qualquer circunstância. O esporte é uma ferramenta de reabilitação muito forte.”